Páginas

domingo, 7 de janeiro de 2007

A porta entreaberta


Quando passei perto daquela porta entreaberta, tive imensa curiosidade em ver o que estava para lá daquele feixe fino de luz... Ao menos tempo, quando me preparava para desavergonhadamente espreitar para aquele espaço que me parecia reservado, senti que não estava correcto; talvez por detrás daquela porta entreaberta estivesse um par de amantes, ou quem sabe simplesmente alguém a gozar a solidão... Mas talvez para lá daquela porta entreaberta não estivesse nada! E apenas aquele feixe de luz fosse a luz do Sol que estava lá fora e aquela fosse a porta que separava a realidade de dentro da realidade de fora... Dentro de mim e fora de mim...
Detive-me! Não queria ser um intruso! Fiz um ar sério e disse para mim mesmo "Vai à tua vida e deixa da mão esta porta"... Avancei fingindo que havia esquecido aquele momento e fui pisando o caminho que tinha predestinado.
Não tinha ainda dado muitos passos e ouvi um estrondo enorme - "PAMMMM"!
Fiquei assustado, atarantado, até porque de repente, ao mesmo tempo que se ouviu o estrondo, não havia mais luz - estava escuro como o breu!
Apercebi-me que tinha sido a porta que se tinha fechado... Talvez uma corrente de ar!
Comecei a andar no sentido contrário com o objectivo de encontrar a porta - afinal, de lá brotava um fino feixe de luz e ao abri-la conseguiria ver qualquer coisa. Se para lá da porta estivesse alguém não faria mal, eu explicaria que tinha sido uma emergência e que precisava de luz - agora tinha uma justificação e conseguiria matar a minha curiosidade contida minutos antes (se bem que agora pouco me importava o que estava para lá da porta; eu queria era luz!).
Aos apalpões lá cheguei junto da porta, achei a maçaneta, tentei rodar mas nada, a porta não abria! Bati... Ninguém respondeu! Procurei um interruptor para a luz ou uma campainha perto da porta, mas nada, não havia nada mais do que o escuro e a maçaneta que insistia em não rodar.
Enraivecido, dei pontapés contra a porta, gritei...
Exausto, sentei-me no chão encostado à porta que minutos antes estava entreaberta e chorei... Tinha motivos para isso... Afinal tinha acabado de perder a grande oportunidade da minha vida ao não ter entrado por aquela porta uns minutos antes!

1 comentário:

Inês Simões disse...

Quando se fecha uma porta.. há sempre uma janela. Não chores. Não desesperes. Procura. Eu sei que vais encontrar porque também sei que ela lá está. Foi só uma porta que se fechou. E uma porta é só o caminho mais fácil de chegar a algum lado. E ser mais fácil não implica necessariamente que seja o melhor. Levanta-te. Limpa as lárimas. E segue o teu caminho. A luz vai aparecer à tua frente quando menos esperares. E através do vidro passa muito mais do que um feixe de luz. Acredita em mim.

[Porque este post é das coisas mais bonitas que li até hoje. E estava mesmo a precisar disto.]