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quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

O mesmo acto, duas reacções


Francisco saiu do trabalho, um escritório nas imponentes Torres de Lisboa. Entrou no carro e dirigiu até à Praça do Saldanha. Encontrou um lugar para estacionar e sacou da moeda de €0,50 para dar ao arrumador. Descontraidamente ía pelo passeio, como se nada fosse com ele, em direcção aquela consulta que a esposa lhe tinha marcado no dentista.
De repente é abordado por um sujeito meio "tan-tan" que verborreou qualquer coisa meio imperceptível e como um louco lhe apontou para os lábios, com os dedos cheios de qualquer coisa que parecia carvão, com um gesto de mãos meio tosco e lentificado; tão próximo que Francisco teve nojo e rapidamente o afastou.
Continuou o seu caminho e chegou finalmente ao consultório. Entrou, identificou-se na recepção. Aguardou na sala de espera. Passado cerca de 10 minutos uma daqueles funcionárias vestidas de branco (que sempre há naqueles consultórios meio chiques) chamou pelo nome de Francisco à entrada da sala de espera. Levantou-se e caminhou até à sala do dentista. Nunca tinha visto aquele homem, não o conhecia de parte nenhuma, contudo, cumprimentou-o, sentou-se na cadeira e abriu a boca naquele gesto implacável de quem suplica para lhe enfiarem as mãos na boca!

[Inspirado num artigo que li na revista Visão. Já o li há tanto tempo, que não me lembro quando.]

Actos como este acontecem diariamente na profissão de médico-dentista e na profissão de médico, e em qualquer outra profissão que envolva seres humanos em estado mais ou menos vulnerável.
Que raio de poder, ou de encabulada qualidade, que alguém deu a estes seres do universo para puderem fazer tanta coisa, muitas vezes sem se explicarem?
Óbvio que o exemplo que desenvolvi é um pouco ridicularizável, mas quantas histórias conhecemos nós nas quais os doentes se confessam e se expõem aos médicos. Quanta confiança! Quanta necessidade! Quanta vulnerabilidade!
E depois o erro médico, o mesmo que a desilusão no amor! Caramba, não é a profissão médica uma profissão como tantas outras? Se calhar não é, mexe com a vida dos outros e os outros fazem com que os médicos mexam na sua vida!
Tenho medo e coloco questões! Terei esse direito, ou deverei pôr-me rapidamente a estudar, em vez de pensar sobre estas coisas, para que no futuro não faça erros e seja o deus que todos esperam de mim?
Não tenho essa presunção, mas será que a sociedade realmente me exige isso?

2 comentários:

Anónimo disse...

Para quem estuda medicina, não compreendo como escreve assim. Por acaso sabes o que são vírgulas? e a acentuação, diz-te algo? ah e já agora..imperceptível é assim que se escreve.
(e vai ser isto um futuro médico)

Unknown disse...

Sempre me disseram que tudo aquilo que escrevemos deve ser assinado e assumido. Comentar por comentar, sem dizer quem somos nem ao que vimos não tem substância e perde peso argumentativo.
Por ser estudante de Medicina não terei de ser bom a tudo aquilo que me proponho a fazer. Contudo, considero-me uma pessoa literada, interessada, pensadora e algo criativa.
Disse no primeiro texto deste blog que não queria ser literário. Não tenho nenhuma formação académica para a escrita... Escrevo como me apetece, sem grandes regras; o que sinto e o que invento...
Saramago escreve sem muitas vírgulas... os seus textos são densos... ganhou o Nobel!
A falta de acentuação é um defeito que assumo e assola toda a minha geração: quando escrevo no computador, devido ao facto de ter passado em mais novo muitas horas em chats (e ainda passo algumas), escrevo tão depressa que me esqueço de colocar acentos - e depois troca algumas palavras (imperceptível e impreceptível).
"e vai ser isto um futuro médico" - "isto" não, porque não sou coisa, mas antes "ele".
Mesmo assim, se um mau futuro médico é aquele que para além da Medicina tem outros interesses, publica alguns textos num blog, organiza actividades a nível associativo e partidário, assume cargos de direcção a nível associativo, académico, partidário... tem uma vida social activa, vários grupos de amigos, áreas de acção variadas,...; então eu serei um mau futuro médico - mas com muito orgulho!